Coll Halt Pas

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quarta-feira, 16 de setembro de 2015

A RAZÃO DA MINHA DESISTÊNCIA NO TDG.



Col Haut Pas (2857 m)
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Agora com a cabeça mais no lugar, mais fria, e porque devo isto não só aos meus sponsor's, mas também aos meus amigos e seguidores, leva-me a escrever estas palavras.

Palavras estas que poderão servir para os menos experientes tomarem noção que Trail ou Ultra Trail em alta montanha (e quando a alta Montanha são os Alpes em que de um momento para o outro passa de verão a tempestade) não é brincadeira. Para além de não ser brincadeira, poderá ser muito sério. Poderá em úlgtima consequência levar à morte. Em toda a minha vida desisti em duas competições, por lesão. Uma em 1987, outra no ano passado neste mesmo local onde me encontro (Caourmayeur Alpes).Situações dolorosas sem dúvida.

Este ano não houve lesão nenhuma. E não houve porque fui excepcialmente tratado pela Fernanda Verde. Na mão dela estes músculos voltaram aos 30 anos. Também não houve porque os suplementos desportivos da Herbalife gentilmente fornecidos pelo Daniel Araújo,fortaleceram toda a minha compleição física. E a juntar a estes dois, tive uma preparação física séria e intensa , seguindo uma orientação previamente estabelecida. Nada foi ao acaso.

Agora vamos analisar o meu abandono. Depois de um excelente pequeno almoço com vários nutrientes para grandes esforços, incluindo o Formula 1 Refeição equilibrada da Herbalife, pelas 10 horas locais saímos debaixo de um temporal danado em direcção ao 1º grande pico, Col d'Arp (2571m). Aí chegado, foi descer o mais rapido possível para fugir à tormenta no alto do pico. Ao km 20, subi dos 1613 para os 2857 situados no km 29 (Col Haut Pass). Começaram aqui os problemas. Não vou pormenorizar os trilhos, apenas dizer que para além de muito técnicos, também MUITO perigosos.

Não me podia queixar porque sabia o que iria encontrar. Só que este ano, à medida que ia subindo, a temperatura de positiva passou a negativa, a chuva e o vento de forte a fortíssimo impediam uma Ascenção mais rápida as núvens baixas não permitiam visão superior a 3 metros. Graças à excepcional marcação ninguém se perdeu. Chegado ao cimo, ainda deu para tirar uma foto de recordação. Fugi dali o mais rápido possível na companhia de uma colega Chinesa, para fugir à fustigação  da intempérie... Durante cerca de 3 km descemos 850 m para subirmos de imediato outros 820, para o col de Crosalties (2829 m) em 2,4 Km.

Diabólica essa subida. não só pelo desnível (por vezes 44%), mas como sendo a mais perigosa de todo o Tor. Devido à dificuldade deste troço, a progressão no terreno faz-se lentamente. Há força, muita força mas o grau de perigo é tão grande que ninguém dá um passo maior que o outro. à medida que ia subindo, apesar de levar luvas impermeáveis, as mãos começaram a gelar impedindo-me de usar os bastões convenientemente. Logo que passei o pico para o outro lado, tive que entrar numa espécie de tenda destinada aos socorristas que estavam lá. Perdi algum tempo a vestir umas proteções de luvas e quando estava a colocar a mochila, a hipotremia comessou a apossar-se de mim. Não perdi tempo, a opecção era imediatamente o corpo produzir calor. Para isso saí rapidamente e em alta velocidade desatei a correr montanha abaixo. Resultou, passados 3 minutos estava recomposto. Dali até ao Suporte Base de Vida situado ao Km 50 nada de anormal.

Mudei re roupa, jantei e quando estava a preparar-me para seguir viagem, fui (eu e todos os que se encontravam no SBV) impedidos de o fazer. A prova estava oficialmente encerrada devido ao mau tempo. o nevão era de tal ordem que todos os Atletas que estavam nos diversos Refugios ficaram retidos durante 3 horas. às 07 da manhã tivemos permissão de sair e lá fui eu e os outros, montanha acima. Apesar de ter 3 camisolas termicas, mais uma de lá por cima o gorotex e ainda um buffer, um barrete de neve, um chapeu e ainda o capucho do gorotex, o frio era muito. Não sentia frio mas quando soprava o ventinho parece que furava tudo. Ainda subi 7 k, mas conhecendo eu o percrso até ao Col de Fenetre (2854m), sabia que poderia encostar a qualquer sítio não abrigado e entrar em hipotremia. Sabia também que com aquele temporal era impossível o Helio resgatar-me. Nestas condições, por muito respeito que tenho com os patrocinadores, por muito respeito que tenho dos meus amigos e seguidores que sempre acreditaram em mim e também por respeito à minha família, tomei a decisão - dolorosa para mim - de dar por finda a aventura este ano no Tor des Geants.

Para esta tomada de posição contribuiu imenso uma conversa havida entre mim e o nosso grande Carlos Sá, em que abordamos precisamente o tema de teperaturas negativas em alta montanha. Obrigado Carlos Sá amigo, foi frutuosa a nossa conversa.

Peço desculpa a todas as pessoas envolvidas mas para o ano haverá novamente o Tor des Geant, vida para além desta não haverá. Vou continuar a sonhar que este desafio será meu de certeza. Não sei quando, mas vai ser.

Para concluir vou quero citar uma frase várias veses citada: "Quando morrer quero que seja nos Alpes, mas no dia 14 decidi que não queria mesmo morrer".

Espero sinceramente que este relato sirva de facto para alertar os menos experientes.

PS: Algumas horas depois, o evento foi definitivamente suspenso pela organização!

Um Abraço do Quim Sampaio

20 comentários:

  1. Saber os nosso limites e saber quando se deve desistir é uma prova de inteligência.
    Na verdade não se trata de desistir mas apenas recuar para voltar ao ataque noutra altura.
    Força campeão.
    Aquele abraço.

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  2. Saber os limites é fundamental.....Desporto não e encontrar a morte é apenas competir... Um Abraço

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  3. És um verdadeiro Gigante...!!! Decisão mais que acertada...!!! Love you pappy... ❤

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  4. Quim pelo relato não havia outra decisão a tomar. Não se sinta pressionado com patrocínios ou amigos. Vida só há uma, tudo o resto se remedeia. Muito feliz pela sua história (inacabada!!) ter tido um final feliz!
    Beijinho (Anabela)

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    1. com estas montanhas... Beijinho
      contas Obrigado amiga, mais tarde ajustarei

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  5. Parabéns pela decisão, como dizes, para o ano há mais, foste consciente, beijo.

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  6. Deus nos permita terminar essa jornada no ano que vem!!! ;) És um ENORME EXEMPLO para todos nós, e o teu relato é fundamental para todos os que ambicionam meter-se nesta loucura. Grande abraço, e mal posso esperar para ouvir o teu relato pessoalmente.

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    1. Olá Mauro. Este ano foi de loucura. Por muito fortes que sejamos, com estes monstros de montanhas umas ligadas ás outras por estreitos vales (perde-se o sinal de satélite), não se brinca mesmo. O tor por si, é de uma dureza inimaginável, com bom tempo. Com estas condições???? Nem me atrevo a classificar...

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  7. Não o conheço pessoalmente mas já o admiro muito. Grande atitude! Parabéns.
    Abraço

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  8. Grande Sampaio, grande exemplo....quando for grande quero ser como tu!

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