Coll Halt Pas

Coll Halt Pas

terça-feira, 14 de julho de 2015


A MINHA AVENTURA INCOMPLETA NO Tór des Geants 2014!

Courmayeur
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No dia 5 de Setembro, na companhia do Pedro Igor, apanhei o avião no aeroporto do Porto e lá fomos a caminho de Genebra (Suíça). Um Fiat 500 estava à nossa espera para nos levar a Courmayeur (Itália).

Sendo hora de jantar, fizemo-lo no caminho. Um pequeno desvio (1 km) e jantamos em Chamonix, “capital” do Trail Mundial. Depois foi só atravessar o túnel de Mont-Blanc. Do outro lado começa a Itália e situa-se a cidade de destino: Courmayeur.

No dia seguinte Sábado 6, foi seleccionar todo o material obrigatório para ser vistoriado no levantamento do dorsal. Nada, absolutamente nada, podia faltar.

Passamos cerca de 3 horas na fila ouvindo conversações em vários idiomas (64 países presentes), até que chegou a nossa vez. Depois de tudo ok, foi-me entregue o dorsal 1077 e o respectivo saco para transporte do material obrigatório.

Col Arp
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De regresso à residencial, foi uma azáfama nos preparativos finais. Do que iria levar na mochila, nada poderia ficar para trás. Tudo poderia vir a fazer falta.

Deitar cedinho, foi a opção. A noite (contrariamente a muitas noites nos últimos dois meses em que só dormia até às 4h da manhã), foi num único sono até às 08h.

La Thuili
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9h30, entrada para o controle zero. Depressa chegaram as 10h, porque a festa era enorme! A contagem decrescente chegou, e lá fomos nós durante 2Km de ruas e estrada planas cheias de “chocalhos”, muita música, muitos aplausos, entrando finalmente no monte. A “coisa” ia começar a doer…

Nos 1ºs 50 Km, temos que atravessar 3 Col’s: Arp (2571m),  Haut Pas (2857m) e Crosaties (2829m),  tornando este troço muito duro devido ao elevado desnível acumulado  e à tecnicidade encontrada.

Deffeyes
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Da entrada no Monte até ao Col Arp (2571m Alt), foram 6Km um pouquito inclinados 1347m D+! Um bom Km vertical… Mas valeu pela “recepção” calorosa dos muitos presentes com os seus Chocalhos e incentivos!

Ao km 11,834 (Youlaz) e após uma descida de 521m, o 1º abastecimento. 5 minutos para comer uns frutos secos, queijo, marmelada, chocolate e coca-cola. Daqui até La Thuile (1458m), uma longa descida de 5,25Km (593m D-). Claro que aqui havia um novo abastecimento, e mais 10 minutos de paragem… O queijo, a marmelada o presunto, os frutos secos a sopinha e desta vez a cervejinha, não podiam ficar lá intactos… De salientar que até Niel (186,69km) encontrei 23 postos de abastecimento. Estes postos estavam recheados de uma ENORME variedade de comida e bebida.

Col Crosaties
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Como já estava “farto” de descer, fui presenteado com uma subidita de 9,59km até ao próximo abastecimento situado no Refúgio de Deffeyes (2500m). Este percurso permitiu admirar uma quantidade enorme de riachos de água cristalina resultante do degelo das neves perpétuas. Sede? Não houve. Era só destapar um dos bidões encher e beber. No abastecimento, “abanquei de novo”… Para abreviar, comi e bebi em todos os abastecimentos ao longo do percurso!

Col Haut Pas
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Mas os Alpes reservam-nos paisagens e relevos extraordinários. Dali até ao Col Haut Pas (2857m),foi um “saltinho” de 2,8Km e um D+ de 380m. Mais 3,7km de descida até Promoud (2017m, 840m D- e 33,58Km após a partida).

Valgrisenche
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De Promoud até ao Col Crosaties, (2829m), são 2,5km e um D+ de 840m!!! Os últimos +- 300m, é uma autentica escalada, que só com as cordas conseguimos chegar lá acima. Paisagem fantástica, descida fantástica “tecnicamente”… Só pedregulhos… Esta descida leva-nos ao Refúgio de Planaval. São 7,23km, mas um D- de 13012m! Depois de percorrer mais 5,5km e um pequeno D+ de 145m, chego ao primeiro Suporte Base de Vida (SBV), ao fim de 48,7km após a partida. Uma ligeira paragem (cerca de 20 minutos), para “jantar”…

Refugio Chalet Epee
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Deste SBV até ao próximo (Cogne 102,14km), fui encontrar o troço mais difícil. Mais difícil não só pelas subidas como descidas brutais como a perigosidade de determinados troços. São eles: Col de Fenetre Epee (2366m), Col de Entrelor (3302m) e Col de Loson (3299m). Muito desnível acumulado, e a constante altitude.

Cogne
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A distância que separa o SBV de Cogne do Refúgio Chalet Epee (2366m e 700 D+), são 7km. Mas a subida não acaba aqui… São mais 3km até ao Col Fenetre Epee a uma altitude de 2854m. São 500m D+ bem “durinhos”…. Mas se a subida foi “durinha”, que dizer da descida? Foi a mais perigosa que encontrei! Para além da inclinação, era um zig-zag por ali abaixo extremamente perigoso.

Col Entrelor
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Uma escorregadela, só parava-mos cerca de 3 km abaixo. Não havia qualquer barreira natural ou artificial que impedisse de “chegarmos muito mais cedo ao fim”. Francamente foi a única vez que tive medo. Mas quase no fim encontrei a Célia Azenha que não se estava a sentir bem fisicamente, e lá fomos os dois até ao Refúgio Rhemes-Notre-Dame (1738m). Foram  1200m (D-). A Célia, porque continuava a não estar bem, tomou (quanto a mim) a decisão mais sábia. Ficou por ali, evitando pôr a sua vida em risco. A minha admiração, Célia Azenha. Não sei se teria coragem de fazer o que fizeste!

Col Leson
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Mas estava ainda para vir mais uns “docinhos”…. Após ter petiscado durante 10 minutos em Rhemes-Notre-Dame, aí vai ele rumo ao Col Entrelor situado lá no alto, a 3302m!!!! Foram 1864m (D+) em apenas 5,4km! Durinho, não? Mas continuava muito bem, a moral nem se fala! Aquela subida foi feita com um ritmo que não estava nos meus planos… Foram vários os colegas que passei por ali acima. A descida veio imediatamente a seguir. E foram 9,1kmr até ao Refúgio Eaux Roussee, 1664m Alt, (2348m D-).

Rifugio du Sogno
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Tal como o nome indica, este é mesmo um Ultra Trail para “Gigantes”! É que logo a seguir, a organização não quer que nada nos falte e presenteia-nos com mais uma “subidinha” ao Col Loson a 3299m … Foi “apenas” 2148m D+ em 10,6km!!! Imediatamente começa uma descida de 4,35km até chegar ao Refúgio Vittorio Sella (2585m, 715 D-) Nesta descida, pela 1ª vez tive sono, mas após comer mais uma sopinha, coca-cola queijo, frutos e café continuei… E continuei a descer mais uma descida muito técnica até Cogne. Este SBV situa-se à altitude de 1531m. Com isto quero dizer que desde o Col de Leson até aqui, houve um D- de 1768m numa distância de 12,34km!!! E com tudo isto, estava nos 102km após a partida!

Aqui, uma surpresa MUITO AGRADÁVEL: Estava à minha espera o meu grande amigo Pedro Igor. Na descida do Col de Entrelor, teve uma entorse, pondo-o fora do evento. Foi uma ajuda importante!. Não me deixou fazer nada. Preparou toda a minha refeição, não me deixando sequer dar um passo! Até à cama me levou...Obrigado Pedro.

Fenetre_di_Champorcher
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A paragem aqui foi maior. Foram cerca de 3 horas, sendo distribuídas da seguinte maneira: 20 minutos para almoçar, 2h20 para dormir e 10+10 minutos preparativos de chegada/partida.

Já “fresquinho” com pouco mais de 2 horas de dormida, aí vou eu iniciar mais uma fase um pouco mais suave…

Bard
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Este 3ª troço (mais suave) tem ainda duas dificuldades acrescidas: O Refúgio de Sogno (2534m) e o Col de Fenetre de Comparcher (2827m). De Cogne ao Refúgio de Sogno, são 14,5 km sempre a subir, com D+ de pouco mais de 1000m. Há entre estes dois pontos mais um abastecimento: Goilles. Mas como não nos “permitem andarmos muito tempo cá “por baixo”, continuamos a subir até ao Col Fenetre Comporcher, 2827m. O desnível não é assim tanto. 293m D+ para uma distância de 1,8km. Percorrendo mais 3,3km, encontramos o Refúgio Miserin. 


Estrada Romana Donnas
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Continuando o percurso e continuando a descer, encontramos novo Refúgio, este com o nome de Dondena. Nova paragem novo petisco…Mais 5,84km, temos o Refúgio de Camporcher. Para aqui chegar, continuei a descer (suavemente). 741m D-. De Camporcher ao Refúgio de Pontboset, distam 9,2km, havendo um D- de 791m. Deste Refúgio até ao SBV Donnas, (ponto mais baixo de todo o Tór: 330m), vamos encontrar um terrível carrossel. São 9,7km, inimagináveis! Apesar de o desnível ser negativo (460m), este troço é composto por subidas com inclinação como nunca vi e descidas que a maior parte das vezes tinham que se descer de lado… Para dar ainda mais “pica”, este troço é dos mais técnicos do Tór. Chegado aqui depois da hora do almoço, nova paragem desta vez de 3h30 aos 148,73km. 20 Minutos para almoçar, 2h55 para dormir e 15 minutos para preparativos chegada/partida.

Também aqui o Pedro foi uma mais valia indescritível! O Jantar foi servido por ele. Ainda deu para beber uma cerveja comigo.... Obrigado Pedro. Há coisas que não se esquecem e todo este apoio é inesquecível, não há dinheiro que "compre", porque a amizade não tem preço1

Perloz
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Novamente “fresquinho” e já prestes a ligar o frontal, lá vou eu Montanha acima. O Refúgio de Perloz situa-se a 333m D+ (663m alt) e 5,1km depois. Daqui até Tour d’Hererz, uma descidinha/plano de 2,86km. O Refúgio de Sassa situa-se 6,3km acima. O D+ para lá chegar são 720m! Continuando a subir (e bastante), encontramos o Refúgio de Coda! Espectacular refúgio bem lá “quase” no alto! Situa-se a 2224m Alt. Mas para aqui chegar, tive que subir um D+ de 920m em 4,7km!, com muita escadaria à mistura. Veio depois a “recompensa” com uma descidasinha de 540m (D-) numa distância de 7km até chegar ao Lago Vagno (1686 Alt.), aqui mais um Refúgio. 10 minutos de paragem, mais uns “comes e bebes” porque a energia que vou ter que despender até ao Col du Marmontana vai ser significativa. Há um D+ em 4km de 700m! Mas se a subida foi bem “puxadinha”, a descida de 1km até ao lago Chiaro não era nada mais fácil… 340m D-.


Rifugio Coda e Monte Rosa
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Para chegar ao Col della Vecchia faltam 5 km com o D+ muito baixo (100m), mas extremamente perigoso. Qualquer descuido, acaba-se ao fundo de uma escarpa com 300 ou 400m de fundo. Um trilho com cerca de 1m de largura sem qualquer protecção. Tinha sim do lado contrário à escarpa, uma corda a todo o comprimento para nos segurarmos. Este trilho perigoso tem cerca de 0,6km de comprimento. E para facilitar a “coisa” foi feito durante a madrugada do dia 10, mas a Lua Cheia bem lá no alto, até permitia levar o frontal apagado (mas não o fiz)…


Meu amigo Jorge Serrazina. Col Marmontana
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Eis-me chegado ao Refúgio do Col della Vecchia, aos 181km da partida. Mais uma ligeira paragem para uns petiscos e lá vou eu até ao Refúgio seguinte a uma distância de 5,46km com um D- de 611m. Este percurso, apesar de não ter muito desnível (a maior parte era plano), tinha uma descida entre o km 183,700 e o 185, duplamente diabólica! Era diabolicamente inclinada, e diabolicamente técnica e perigosa. Foi neste pequeno troço até ao Refúgio de Niel que ao km 184,5 às 5horas da manhã tive a lesão na cocha direita, impossibilitando-me de continuar. Quando a rotura aconteceu, faltavam 2,2km para chegar a Niel. Eram 7 horas quando consegui chegar lá. Foram precisas 2 horas para percorrer os 2,2km!

SBV de Donnas (150 Km)
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Eu já sabia que não poderia continuar, porque as dores eram insuportáveis, mas restava-me ainda uma leve esperança que os paramédicos no Refúgio, fizessem algum “milagre”… Com esse objectivo, acerquei-me deles pedindo para me massajarem (analgésico já tinha tomado). Assim que começaram, logo pararam porque ao colocarem as mãos na cocha, gritei com tanta intensidade, assustando-os… Claro que foram chamar o médico e após alguns instantes o médico deu a “sentença” : Finish. E ainda antes de poder responder, cortou-me a pulseira chip.

Foi um choque enormíssimo, do qual ainda não recuperei na totalidade. Foi o início do dia mais triste da minha vida! Demorei a descrever esta minha aventura (incompleta no Tór des Geants), porque cada vez que começava depressa terminava porque a “coisa ainda sangrava”…


Recepção no Aeroporto!
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Regressamos a Portugal no mesmo voo, para além de mim, o Pedro Igor e o Armando Teixeira. Quando ainda estávamos à espera da bagagem, ouvimos um ruidoso conjunto de vozes. Comentei com o Pedro que aquilo era pessoal do Armando que o vinham felicitar pelo seu excelente 18º lugar. Mas quando passamos as barreiras do aeroporto, observamos (eu com lágrimas nos olhos) que havia dois grupos ambos apoiando nós os 3. Foi maravilhoso e uma vez mais, da minha parte comovente. Não acabei o desafio a que me propus, não achava justo esta recepção. Os meus (nossos) amigos acharam por bem fazê-la, foi MARAVILHOSO!

O meu abraço a todos!

Espero para o ano, fazer a descrição completa dos 332,530km do percurso. Não posso morrer. É PROIBIDO MORRER SEM TERMINAR ESTE SONHO!!!





Recepção Aeroporto

Recepção Aeroporto

Descida do Col  della Vecchia Lua Cheia!
Recepção Aeroporto




Col Fenetre Epee

Col Marmontana
Lac du Fond

Recepção Aeroporto do Porto
Rifugio-vittorio-sella



Col de Entrelor (3302m). Rampinha bem lá no cimo feita ao principio da manhã...
Col de Entrelor (3302m).
Col de Crosaties (2829m).
Col de Crosaties (2829m).



Quim Sampaio

Filme TSF

segunda-feira, 13 de julho de 2015

OS BASTÕES!


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“Antigamente” os bastões eram apenas observados nas mãos dos Montanhistas. Com o advento do Trail Running começamos a ver Atletas e mais Atletas munidos de bastões, mesmo para provas com pouca quilometragem e grau de dificuldade diminuto.

Obviamente que em minha opinião (cheguei a partilhar com alguém), era totalmente contra. “A moda dos bastões” era “chique”, logo teria que ser “obrigatório…” o seu uso…

E assim durante bastante tempo essa ideia fixa permaneceu, até à minha participação no TdG. Quando a data de início se estava a aproximar, fui “intimidado” a levar um par deles…!!!!

Um colega de equipa (Diogo Almeida) emprestou-me um par e lá foi ele até Itália.

O uso deste “brinquedo de luxo” durante os 180 e tal Km’s do TdG e os eventos seguintes, deixaram-me fã. Sobretudo este último nos Alpes há 3 semanas, em que eles foram “reis”…

Perante esta experiência, sinto-me talvez já com alguma autoridade para falar e por ventura dar alguns concelhos sobre o seu uso.

Sem dúvida que tem quase tanto de útil como inútil… Diria talvez 70/30 respectivamente.

A sua utilidade baseia-se acima de tudo como um grande auxiliar das pernas. Quase toda a força exercida pelos braços na sua impulsão, é força que as pernas não utilizam. Por outro lado nas descidas, o seu uso vai beneficiar grandemente os quadríceps. Um músculosinho que nada gosta de descidas acentuadas e longas….

Também ajuda no equilíbrio em trilhos técnicos, travessia de riachos e socalcos… Mas cuidado com os riachos que poderá ser o inverso… No PGTA, quando ia para atravessar um rio (com um caudal de respeito) meto os bastões no rio, mas não encontrei o fundo! Resultado, com a inclinação que o corpo tinha, o mergulho total foi inevitável…. Só não fui rio abaixo porque os próprios bastões “me salvaram”….

Por outro lado, podem também ser bastante inconvenientes. Planos e descidas pouco pronunciadas, são de facto um estorvo. Por muito leves que sejam, nestes terrenos limitam bastante o ritmo (se este for alto).

O seu uso terá que ser correcto. O mais pequeno descuido poderá ser complicado. Uma situação passada comigo no GTSL, é prova do que acabei de dizer. Ao sair de um trilho descendente de acesso à atravessia uma estrada, coloquei um dos bastões à frente de um dos pés e a queda foi bastante desagradável! E mais desagradável se tornou, porque originou ter danificado o meu Fenix 2…

Quando comprarem uns bastões tenham em atenção algumas situações:

- Qualidade – Fortes e resistentes

- Peso – Sendo resistentes, devem ser o mais leve possível. (Carbono ou Alumínio 80. A carteira aqui é que escolhe...)

- Tamanho – Se forem extensíveis, terão que ser ajustados á altura de cada Atleta. Se forem fixos, terão mesmo que serem comprados com a tua medida.

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Para quem eventualmente não saiba, o ajuste do bastão obtém-se da seguinte maneira: Com uma das mãos segurar o bastão no seu punho e quando  um ângulo recto entre o braço e o antebraço estiver desenhado, ajustar aí a altura.


Se for fixo, com uma fita métrica mede a distância entre o vértice desse ângulo recto (cotovelo ) e o chão. Adiciona mais 5 centímetros poderão ser úteis para as descidas.

Importante: Tenta usar o bastão sempre com a postura do corpo o mais possível na vertical. É fundamental para evitar as dores lombares.

Espero que este artigo possa de alguma maneira ser útil, e tenha contribuído para algo.

Quim Sampaio- Ultra Trailer

sexta-feira, 3 de julho de 2015

THE NORTH FACE®
LAVAREDO ULTRA TRAIL

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Após o afastamento no ano passado do Tor des Geants devido a uma rotura muscular, decidi que iria lutar com toda a minha força e perseverança para estar presente este ano.

Mesmo antes de ter qualquer feedback da organização do TdG, decidi que iria começar a preparação no dia 2 de Janeiro 2015.

No último dia de Novembro do ano passado, dia do Gerês Marathon, numa conversa com o meu querido companheiro e amigo Carlos Sá, entre outras coisas, obviamente que o TdG teria que vir à baila. Foi aí que ele me “obrigou” a fazer LUT, como parte da preparação para o TdG. A inscrição foi feita e aceite, a taxa paga. Tudo isto sem ter havido ainda a pré-inscrição para o TdG, o que aconteceu depois.

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Muita água passou debaixo das pontes até ter conseguido uma inscrição para o TdG. Apenas soube que iria de facto, na 3ª etapa do PGTA.

 O dia 25 de Junho chegou e vários Portugueses partem para Cortina d’Ampezzo, local de start/finisher do LUT.

A viagem embora longa (em tempo) correu bem, 12 horas estava-mos em Veneza. Um passeiozinho pela cidade, uma corridinha para descontracção, uma entrada no rio (água gelada) da Ester e da Goreti e a tarde foi-se.

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Dia 26, conferência do material obrigatório (com cerca de 2 horas na fila) e levantamento do dorsal. Almoço, seguido de um repouso absoluto para quem iria fazer os 119 km…

19h “pasta party” havendo ainda cerca de 3 horas para “deambular”… Equipo-me convenientemente para a noite. (camisola térmica, t’sherty, calções, calças térmicas Buff , etc.

 23 horas começou o meu “calvário, o stress, a vontade louca de ficar ali mesmo.

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5 minutos antes do tiro (sem tiro) de partida, seleccionei a actividade no GPS, coloquei-o à procura do Satélite e alguns segundos depois deu informação de start. Mediante esta informação, tudo calmo, tudo ok. Segue a contagem decrescente e quando chega a zero vou fazer start no relógio, reparei que tinha desaparecido a indicação anterior de start e estava com uma mensagem esquisita que não consegui ler. Não obedecia a qualquer comando. Mesmo assim continuei à espera que "um milagre" acontecesse.... Nada.

Quando estava a chegar ao fim do asfalto para entrar na montanha, parei e disse para os meus “botões”: Se não conseguir pôr o GPS a funcionar, não continuarei. Não sentia confiança para fazer 119 km’s sem qualquer meio auxiliar. Não tinha GPS, não tinha relógio, sentia-me desolado, "despido.

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Ao fim de cerca de 10 minutos de estar parado à entrada da Montanha, consigo fazer um reset total. Liguei-o seguidamente na altura em que os “vassouras” chegaram à minha beira e me perguntaram se eu ficava ali. Já na posse da minha autoconfiança total, disse-lhes que eram doidos se pensavam que iria ficar ali. Mais um minuto e GPS já a funcionar. Começou ali o meu treino.

Digo treino, porque o objectivo do LUT era apenas e só fazer um treino controlado com altitudes e trilhos idênticos ao TdG.

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O meu objectivo era passar todas as barreiras horárias dentro dos tempos que a organização tinha imposto, e ser finisher.

Passados mais cerca de 10 minutos, comecei a passar imensos Atletas. E foi sempre a ultrapassar (sem ser ultrapassado) até aos 18 km,’ local do 1º abastecimento. Estava cheio! 

Parei o tempo suficiente para colocar dentro de um dos bidões um pacotinho de isotónico da Herbalife, encher de água e seguir. Claro que continuei a passar Atletas e raramente era ultrapassado.

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Chegado ao abastecimento seguinte aos 33 k’ms. O tempo de barragem aqui seria às 5h30. Cheguei eram 4h. Bebi apenas uma sopinha, enchi de novo agora o outro bidão com água e o isotónico da Herbalife e segui.

Nos dois abastecimentos, gastei apenas 5 minutos. Apesar da enorme “parede” até ao lago Misurina, não houve qualquer dificuldade. A dificuldade surgiu depois mais à frente, na outra “parede” que nos levou até ao km 49, Ref. Auronzo. 

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Contrariamente às vezes que andei bastante mais lá por cima em altitude, senti que neste trilho duríssimo estava a ter algum problema com a altitude. Mais tarde cheguei à conclusão que não era a altitude mas sim o excesso de roupa aliado ao calor que já se fazia sentir.

Cheguei finalmente lá acima às 07h45, sendo a hora de corte às 10h30. Estava confortável em tempos, mas cheio de calor. A 1ª coisa que fiz, foi retirar a roupa toda, ficando apenas em t’shirty da D+ e calções.

Entrei na fila que havia para o abastecimento, bebi apenas e só mais uma sopinha, enchi de novo outro bidão com isotónico e arranco. Perco aqui 25 minutos!

3cumes lado Sul
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Sigo e parei várias vezes ao longo de todo o percurso para tirar fotos… mas aqui tirei mais pois estava a passar junto aos 3 cumes. Continuei sempre a ritmo de treino “modo Geants”, percorrendo as montanhas sem qualquer dificuldade, mas tendo sempre em conta os tempos de barragem, até ao km 85.

Aqui começo a “sentir” umas gotas de água… Olho para o céu e vejo aproximar-se uma nuvem preta. Ia-mos um grupo de 7 Atletas e claro paramos todos para vestir o impermeável. 

3cumes lado Norte
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Quando chego ao Ref. de Malga Travenanzes (km88), este encontrava-se a abarrotar com pessoal a abrigar-se da chuva. Como não havia caldinho, enchi um bidão e sigo para não arrefecer… à medida que ia subindo, de chuva passou a granizo acompanhado de efeitos sonoros e luminosos!!!

O granizo nas mãos acompanhado também de ventos fortes vindos de trás, legou as mãos ficarem geladas. Parei um pouco à frente para calçar as luvas, mas não as encontrei. Eu tenho uma particularidade, tendo as mãos e os pés gelados tenho a sensação de todo o corpo gelado. Os pés felizmente estavam quentes.

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Continuo a subir e o frio a aumentar, começando mesmo a estar preocupado. Sabia que mais uns 3 a 4 km’s teria um abastecimento e como estava com muita força, locais em que normalmente não corro, fi-lo nessa altura para poder desenvolver calor…

Quase a chegar ao cimo, encontro uma tenda de vigilantes da montanha. Entrei lá e tudo o que tinha tirado ao km 49, vesti novamente. Mesmo chovendo ainda muito e a trovoada presente, sigo viagem. Reparo um pouco mais à frente que a trovoada estava a abandonar aquela montanha. Dali para a frente, tudo a correr a 100%, nada de cansaço, nada de frio, nada de nada. Sempre com vontade de correr onde era possível. E assim continuou até cerca do km 100. 

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Aqui encontro uma Atleta Japonesa dobrada em seus bastões com vómitos terríveis. A única coisa que fiz foi segurar-lhe na cabeça para tentar que se sentisse um pouco mais confortável. Recuperou, pediu-me que seguisse mas eu não a deixei. Ia apenas um metro à frente dela porque notava que vinha com muita dificuldade. Apesar de todo o meu cuidado, cerca de 100 m à frente, dá uma queda muito violenta (Quem por aqui passou sabe que os cerca de 800m antes de Passo Giau, são muito técnicos e muito difíceis. Há socalcos em pedra com mais de um metro de altura).

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Imediatamente mesmo sem saber a gravidade da lesão, rodo-a 180 graus colocando-a de barriga para cima. Faço-lhe um exame primário e vejo que apesar de estar com a parte um pouco abaixo do joelho exposta e uma mão a sangrar abundantemente, não tinha nada partido. Nesse sentido, sentei-a numa pedra e pedi a dois Italianos que passavam alguns minutos depois para pedirem socorro no abastecimento que já se avistava.

Esperamos ali cerca de 20 minutos e nada de socorro. De noite sem o Helio poder voar, no meio daqueles pedregulhos todos, não era muito viável o socorro. Chorava a altos berros! Tentei estancar a hemorragia da mão, tentei acalmá-la, estava quase a entrar em estado de choque.

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 Decidi então com a sua anuência “arrastá-la” até Passo Giau. Foram cerca de 800 metros que nos levou cerca de uma hora. Ela vinha pendurada no meu pescoço e em certos socalcos tive que a descer ao colo. Chegamos finalmente às escadas de acesso ao abastecimento, tendo passado por dois socorristas em sentido contrário que nem pararam. Soube depois que iam à procura da sinistrada… Bem poderia ter morrido, porque o socorro saiu cerca de uma hora depois de ter sido pedido aos Atletas que passaram.

Deixei-a entregue aos cuidados médicos, bebi o último caldinho e lá vou eu até ao último abastecimento.

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Aqui parei apenas (porque ainda tinha os dois bidões quase atestados) para mudar as pilhas do frontal. Sabia que faltavam 9 km’s para o final e sabia também que cerca de 4 km’s pertenciam a uma descida muito inclinada e perigosa devido à chuva que tinha caído, desci com todo o cuidado, sendo ultrapassado nessa descida por 10 ou 15 Atletas….

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Logo que cheguei ao estradão, passei vários que antes me tinham passado. Cheguei finalmente ao asfalto, tendo a agradável surpresa de ter o Fredy à minha espera. Durante aquele km e tal que faltava para chegar à meta, foi aplicado um tal ritmo de corrida, que obriguei o Fredy a ir tomar novo banho porque tinha a camisola toda molhado…

Ao fim de 27h16 cheguei à meta, terminando um excelente treino em “modo Geant”, que também este me deu ainda mais confiança para ser Finisher em Setembro próximo nos Alpes mais a Nw com col’s com mais de 3.000 metros e 24.000 de D+…
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Há, falta dizer que para não fugir à regra, desta vez caí 3 vezes… E dizer também que durante todo o percurso, apenas bebi 3 caldos dos 4 que havia. O restante foram barras de proteínas da Herbalife e isotónico desta mesma marca, tendo também comido uma “barrinha” de fabrico caseiro que o nosso amigo Venezuelano Moises Jimenez me ofereceu com a indicação de ser ingerido por volta dos 80 km.

Comi-a por volta dos 96 km’s, dando-me na verdadeira acepção da palavra, asas para “voar” até à ultima descida….


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Quim Sampaio